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Ilhas de calor em Fortaleza

O elevado grau de urbanização da cidade impacta no aumento de desconforto térmico para a população

Maior presença de ruas e avenidas asfaltadas, alta concentração de edifícios, menor quantidade de áreas verdes e poluição do ar são alguns dos fatores que elevam as temperaturas encontradas nas grandes cidades do Brasil e do mundo. Em Fortaleza, isso não tem sido diferente, o aumento do grau de urbanização vem provocando a formação de ilhas de calor, assim como impactos nas alterações climáticas da cidade. 

 

A professora Maria Elisa Zanella, coordenadora do Laboratório de Climatologia Geográfica e Recursos Hídricos, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), define algumas das principais características do fenômeno das ilhas de calor urbanas. “Trata-se de modificações da atmosfera urbana: as temperaturas são mais elevadas na cidade - onde está mais urbanizado -, e vão diminuindo à medida que nos dirigimos para as áreas suburbanas e rurais que a circundam”, explica. 

Avenida Beira Mar, Fortaleza (Foto: Daiana Almeida)

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O cientista, ambientalista e professor Alexandre Costa avalia sobre a troca da superfície vegetada por concreto e asfalto, um dos pontos que potencializam a formação das ilhas de calor. “Fortaleza é uma das cidades com a menor cobertura vegetal por um decréscimo substancial de área verde. Trocamos a superfície vegetada, que promove a evapotranspiração, por concreto e asfalto. Você passa a substituir as trocas de energia feitas por calor latente por calor sensível. Então, basicamente isso aí é o principal mecanismo físico da da ilha urbana de calor”, comenta.

Alguns dos fatores que potencializam a intensidade e a formação das ilhas de calor são: localização da região, condições climáticas, atividades industriais, condições de tempo e densidade de construções.

As ilhas de calor podem ser identificadas em períodos diurnos e noturnos. A especialista Maria Elisa comenta que o fenômeno ocorre com maior intensidade em Fortaleza no período diurno. “Aqui em Fortaleza acontecem no período diurno. Já vi outras pesquisas em cidades litorâneas, cujas ilhas de calor são maiores durante o dia. Nas regiões temperadas têm maior magnitude no período noturno”, pontua. 


Em relação aos impactos das ilhas de calor em Fortaleza, a especialista comenta alguns dos desconfortos trazidos pelas temperaturas mais elevadas. "Elas elevam as temperaturas na cidade gerando desconforto térmico para a população. Isso repercute no bem-estar do cotidiano. Em Fortaleza temos desconforto térmico das 9h até às 16 horas, de acordo com índices de conforto", explica Maria Elisa.

Impactos das ilhas de calor  

 

​

- Desconfortos térmicos;

- Temperaturas elevadas;

- Falta de sombras;

- Aumento da poluição do ar; 

- Efeitos sobre a mortalidade e saúde da população;

- Aumento da demanda de energia (uso de ar-condicionados e outros recursos tecnológicos);

- Maiores esforços para construção e manutenção de infraestruturas para gerenciar enchentes e para a disposição de resíduos.

O calor em excesso pode causar efeitos na saúde das pessoas, seja problemas respiratórios ou até mesmo levar à morte. O ambientalista Alexandre Costa explica sobre alguns desses efeitos relacionados aos impactos das ilhas de calor na saúde das pessoas. 


 “A depender de quão intensa seja a onda de calor, pode ter aumento significativo de adoecimento até levar à morte [...] O que simplesmente acontece é que nós precisamos ter o nosso suor evaporado para garantir a perda de calor, a regulação da nossa temperatura. Embora boa parte do nosso estado seja semiárido, a nossa faixa litorânea, aqui em Fortaleza, sempre mantém taxas de umidade elevadas. A possibilidade de evaporação do suor é muito pequena, restrita. Ao não se livrar do calor corporal, a tendência é de choque, o que a gente chama de hipertermia. E isso realmente é mais perigoso”, pontua.

Pontos de calor

A professora Maria Elisa, em conjunto com outros discentes da Universidade Federal do Ceará, realizou uma pesquisa sobre ilhas térmicas na cidade de Fortaleza a partir do monitoramento de alguns bairros da cidade. O estudo foi publicado em 2008, mas, mesmo com 13 anos de diferença, segundo ela, a pesquisa ainda tem significância. No estudo foi detectado uma maior frequência de ocorrência de ilhas de calor em bairros como Damas e Henrique Jorge.

No momento, a pesquisadora Maria Elisa está com um estudo em andamento sobre ilhas de calor em Fortaleza, mas, em resultados recentes, ela encontrou diferenças de até

6º C na cidade no período das 14h da tarde.


A pesquisadora também comentou sobre as condições de temperaturas de alguns bairros de Fortaleza. “As temperaturas mais altas variam muito de um horário para outro em diferentes áreas. Bairros com elevada densidade populacional e densamente construídos têm apresentado temperaturas mais elevadas. O parque do Cocó sempre apresenta temperaturas mais baixas durante o dia. No monitoramento que estamos fazendo, observei que no bairro Vila Velha as temperaturas estão mais altas, mas como eu disse, ainda estamos analisando os dados”, explica.

Soluções 

Leia mais.

 

Moura, M. de O., Zanella, M. E., & Linhares Sales, M. C. (2009). ILHAS TÉRMICAS NA CIDADE DE FORTALEZA/CE - DOI 10.5216/bgg.v28i2.5718. Boletim Goiano De Geografia, 28(2), 33-44. https://doi.org/10.5216/bgg.v28i2.5718

Em meio a tantos impactos provocados pelas ilhas de calor - desde alteração das temperaturas da cidade, assim como riscos à saúde das pessoas -, esse fenômeno necessita de soluções eficazes para minimizar seus efeitos. A professora Maria Elisa Zanella pontua algumas das práticas possíveis para mitigar as ilhas de calor. 

 

“Deve-se ampliar a arborização urbana, para sombrear mais a cidade. A criação e manutenção de áreas verdes são fundamentais para isso. Ao invés de usar o asfalto é melhor o concreto (aquele intertravado que tem na Monsenhor Tabosa é bem melhor). A prefeitura poderia abater parte do IPTU para aqueles que têm práticas ecológicas no quintal (grama, plantas, etc). Diminuir o tráfego de veículos e incorporar outros meios de transporte como a bicicleta seriam positivos também”, ressalta a professora. 

 

O professor Newton Célio de Moura, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará, avalia que soluções estratégicas de paisagismo também podem ser usadas para reduzir os efeitos das ilhas de calor.

 

“A própria paisagem pode ser um elemento que atenue problemas de ilhas de calor. Deve-se entender o paisagismo como proposta de projetual. Vegetação, piso, áreas verdes como medidas e técnicas que podem contribuir em relação a um problema de ilhas de calor. Então, a vegetação é uma das possibilidades. Diminuir a incidência da luz solar em superfícies potencialmente que tenham essa refletância é uma das possibilidades”, explica o professor.

Saiba mais.

 

Segundo o professor Newton Célio de Moura, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFC, a vegetação também é um elemento infraestrutural capaz de prover serviços ecossistêmicos, como o emprego do conforto térmico e a diminuição da água drenada. "O paisagismo está com viés de alto desempenho. Não é mais o paisagismo de ornamentação (decoração)", comenta.

No entanto, o cientista Alexandre Costa avalia que a solução é em outra escala, a de enfrentamento da emergência climática. “Não temos solução local. Localmente, o que nós precisamos fazer é uma ou outra medida de redução de danos. Mas a solução é o enfrentamento da emergência climática. É deixar petróleo, gás e carvão no subsolo, abandonar esses combustíveis como fonte de energia, baixar a demanda energética, reduzir a demanda energética global com combate ao consumismo. É encerrar o desmatamento, é proteger os nossos biomas, é recompor florestas e é no limite, inclusive, mudar vários aspectos da nossa vida”, explica.

Ambiente interno

Escute! Arquiteta e urbanista Cecília Nóbrega comenta sobre o que pode ser feito em sua casa para diminuir o calor. 

O calor também influencia no ambiente, seja esse externo ou interno. Para amenizar o desconforto térmico dentro de casa, há algumas medidas que podem ser tomadas, como: uso de cores mais claras, telhas claras e coberturas verdes (ecotelhados) e práticas ecológicas  em varandas e quintais.  


O professor de Arquitetura e Urbanismo Newton Célio de Moura comenta que a vegetação também pode ter um lado pedagógico e educativo. “A gente não teve uma história de boa relação com a vegetação, né? Nas últimas décadas, a gente perdeu muito. As pessoas veem a vegetação como algo que suja, dá trabalho. Por isso é importante que a vegetação tenha seu lado pedagógico, educativo, de querer esse verde dentro de casa, no seu condomínio, na sua calçada, de uma forma que seja consciente”, explica.

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